A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tanto dificultou os processos de compra de doses da vacina Sputnik-V que levou o Consórcio dos Estados do Nordeste a desistir da importação do imunizante russo. Na quinta-feira (5/8), o governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias, anunciou a suspensão da importação da Sputnik-V contra Covid-19.
Após tentar cumprir a longa lista de exigências impostas pela Anvisa, a primeira entrega, de aproximadamente 1 milhão de doses para seis estados do Nordeste, estava prevista para acontecer semana passada.
Em comunicado feito após a reunião entre o consórcio e o Fundo Soberano Russo, Wellington Dias explicou que a decisão foi tomada por dois motivos. O primeiro é o fato da Anvisa não ter emitido uma licença excepcional de importação do imunizante, e diferente de outras vacinas, ter exigido critérios extremamente rígidos para seu uso no Brasil. O segundo motivo foi em função da declaração do Ministério da Saúde de não haver intenção de incluir a Sputnik-V na relação de vacinas no Plano Nacional de Imunização (PNI). Logo o Ministério da Saúde, que vem sucessivamente prorrogando os prazos de entrega das vacinas disponíveis no país.
“É lamentável, o Brasil vive uma situação com alta mortalidade, mais de mil óbitos por dia. Temos vacinas disponíveis, mas impedidas de entrar no Brasil devido uma decisão da Anvisa que faz uma alteração no padrão de teste junto com a não inclusão do Ministério da Saúde no plano nacional de vacinação e a falta da licença de importação, tivemos a suspensão da entrega da vacina até que se tenha uma autorização do uso do imunizante no Brasil”, declarou o governador Wellington Dias.
O Consórcio Nordeste trabalhava para a aquisição de 37 milhões de doses da vacina russa para o Brasil, que, agora, serão redistribuídas para México, Argentina e Bolívia. Dentro destas 37 milhões de doses, estavam incluídas 500 mil doses para o município de Maricá e 800 mil doses para Niterói.
No cronograma original, a chegada do primeiro lote estava prevista ainda para abril. Entretanto, a Anvisa negou os primeiros pedidos de importação. Depois de muita batalha jurídica e comprovação científica, a agência liberou uma pequena parcela para os seis estados, mas negou o direito dos municípios de importar. Entretanto, a liberação para os estados incluía o cumprimento de uma longa lista de exigências, levando o processo a se arrastar até julho.
Para o diretor-presidente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), Celso Pansera, é lamentável o Brasil perder essa oportunidade.
“Infelizmente, no Brasil dos negacionistas, sobra vírus e falta vacina. Se a Anvisa tivesse autorizado a importação ainda em abril, todos os cidadãos de Maricá já estariam imunizados e teria vacina para ajudar as cidades vizinhas. Agora, as vacinas que viriam para o Brasil servirão para salvar vidas em outros países e nós continuamos nas mãos de um programa de imunizações que não dá conta do recado e mantém o povo refém do medo da pandemia”, ressalta Pansera.